BUKKAKE

E acende a última vela.

Velas, velas e velas, é apenas isso que se vê amontoando seu pequeno e abafado quarto, e todas acesas. Uma dispersão iluminada de pontos laranjas projetam a imagem panorâmica de uma via láctea ou a visão noturna da grande cidade com seus prédios, morimbundos vagantes e postes de luz ao horizonte. A cada momento as paredes beges que o circundavam adquiriam mais o tom negrume característico da foligem, e para ele isso era um bom sinal.

Toalhas molhadas bloqueavam qualquer canal de ar puro de fluir para dentro de sua jaula santa, seu objetivo era a estagnação final. O tom quente da iluminação ao redor o trouxe a memoria de um sonho que teve recentemente. Em uma rua vestida de outono londrino, com suas arvores alaranjadas desfolhando-se pelo chão, entrava numa casa e conhecia uma garota. Aí o rememorando acabava.

Em sua pose de Buda esticado no tapete, apoiando seus braços no lado da cama, sentiu a primeira gota de suor correr por sua testa. A pressão caindo acabara por alterar sua percepção, no teto agora estava presa a tv de tubo em que na sua infância via desenhos e sua mãe programas evangélicos. No último momento se registrou medo e um pedido de desculpa.

de Mariana Guará