BUKKAKE

"A cor do sangue é a cor que mais me impressiona
e a que mais nesse mundo me persegue!

Essa obsessao cromática me abate
Não sei por que me vem sempre à lembrança
O estômago esfaqueado de uma criança
E um pedaço de víscera escarlate"


Augusto dos Anjos em "Eu"



História no Cinema


Não tenho tempo de pensar, repensar ou me arrepender, tudo já estava decidido, no momento que tive a faca nua em punho a puxei da bolsa com um movimento, e em outro rapidamente dilacerei sua nuca, numa única curva forte e profunda expus toda a beleza da sua pele alvíssima que eu tanto gostava de brincar, o pescoço que eu tanto esganara agora pela ultima vez se abria como uma flor sangrenta, suas costas que sempre me atraíram agora cobertas em sangue, todo meu impulso erótico presente nos momentos que me cortava agora estava aflorando aqui. No centésimo de segundo em que ela se virou e o primeiro grito de horror foi audível eu não hesitei, cravei em seu músculo do pescoço e em um movimento de arco puxei a faca junto com todos os barulhos e gargarejos de suas cordas vocais se afogando em sangue, uma conexão se formava entre nós, não sei se aquela que existia ou algo mais novo e belo, mas senti remorso ao conseguir olhar em seus olhos, repetindo o movimento e rasgando até a metade de seu macio peito eu senti todo o organôn biológico que a formava se decompondo e quis continuar.

Sua pessoa e seu corpo que tornaram-se objeto de desejo para mim agora estavam nuas, sua vida em pouco tempo chegaria ao fim e eu teria paz, tudo que queria era suas desculpas enquanto choro em seu colo, mas essa visão de amor tenro e maternal nunca se concretizara, agora depois de dilacerar seu busto uma ultima vez viro o instrumento de morte para mim próprio, tudo que você me tornou culminara nesse momento, você tentando me empurrar, correr, e eu segurando sua mão como em nosso primeiro encontro, só que agora com a outra segurando a faca que agora se encontra presa na minha jugular, a dor é grave, sinto minha cabeça flutuar como quando não como por longos períodos, minha pressão está caindo, sinto, agora já não há escapatória, retiro do pescoço e faço movimentos rapidos em meu pulso, uma ultima lembrança dos momentos de desespero que agora chegariam ao fim, novas aberturas encontrando as velhas cicatrizes. Não sei se fiz também em seu braço, nem sei se importa, fui certeiro de novo e senti um fluxo maior escorrendo de meu lado direito, a náusea ja tomava conta de mim e eu chorava. Naquele momento se você me abraçasse eu teria a Redenção e morreria em paz como um santo, a cena mais linda que já imaginei, mas eu apenas chorava e você tentava se desvencilhar, eu não larguei seu braço, não larguei.

de Mariana Guará